O tráfego no distrito federal é cada vez mais intenso, com um alto fluxo de veículos e, consequentemente, o número de infrações e acidentes fatais também registram um aumento. De acordo com dados do Departamento de Tráfego do DF (Detran-DF), os motoristas masculinos somam 85,6% das mortes nas ruas da capital, para um total de 196 vítimas. As mulheres já representam 14,4% das mortes, com 33 ocorrências.
Segundo Detrã, uma das principais razões para essa disparidade está no número de motoristas. Em DF, dos 1.783.399 motoristas qualificados, 58,3% são homens, o que é equivalente a 1.038.710 classificações. Além disso, comportamentos de risco como excesso de velocidade, consumo de álcool, uso móvel do volante, entre outros, são fatores que contribuem para a alta taxa de mortalidade.
Izabela Souza, 43 anos, é professora de um curso responsável por incentivar as mulheres a enfrentar o medo de dirigir. Segundo ela, a paixão pelo volante vem de uma criança, quando ela sonhava em estar no assento do motorista de caminhão de seu pai. Ela compartilha uma experiência pessoal que ocorreu durante uma de suas aulas.
“Estávamos em um caminho muito difícil de superar. Era uma faixa sinuosa, sem ombros, e meu aluno estava dirigindo com muita cautela. De repente, um motorista tentou avançar, mas falhou. Ao perceber que éramos duas mulheres no carro, ele decidiu forçar ainda mais avanços ”, lembra Izabella.
“Ele simplesmente parou o carro no meio da pista, saiu e começou a caminhar em nossa direção, apontando e nos xingando com palavras extremamente agressivas. A situação estava tensa. Meu aluno estava tremendo de medo, e eu já tinha meu telefone celular na mão, pronto para ativar a polícia ”, diz ele.
O episódio terminou apenas quando outros veículos apareceram na pista, e o homem, aparentemente desmotivado pela possibilidade de testemunhas, renunciou à agressão iminente. Ele voltou para o carro e saiu rapidamente, fazendo manobras arriscadas e provocativas.
Leia também
Júlio César da Silva, especialista e professor em trânsito, explica que o comportamento dos homens no trânsito é geralmente mais agressivo. “O homem quer ter prioridade, ele quer dominar, é apressado e não planeja seus caminhos”, diz Silva. Ele também ressalta que as mulheres tendem a ser mais cautelosas. “A mulher está dirigindo, ela tem uma visão periférica muito mais focada do que o homem. É cuidadoso, atencioso e segue as regras muito mais ”, acrescenta o especialista.
No entanto, ele acredita que existem soluções para melhorar a segurança do trânsito. “Quando entendemos que temos uma família em casa esperando por nós, não bebemos e dirigimos e nem aceleramos o carro acima da velocidade da estrada”, diz Silva.
Além dos fatores comportamentais, o psicanalista Ana Lisboa contribui para uma reflexão sobre a relação entre comportamento masculino e fatores culturais. O psicanalista explica que, no caso dos homens, essa necessidade de reafirmar a identidade é frequentemente ligada à imaturidade cognitiva.
“Um homem verdadeiramente maduro e claro não precisa provar sua masculinidade o tempo todo. Aquele que sente essa necessidade, de fato, continua sendo uma criança em termos psicológicos, agindo de forma imprudente e irresponsável ”, diz ele.
Lisboa também compara o comportamento de alguns homens no trânsito com o das crianças, que são naturalmente imprudentes, sem medo ou limites muito definidos. “Quando um homem permanece nessa fase infantil, ele sente a necessidade de reafirmar sua masculinidade para si e para a sociedade. Essa pesquisa pode se manifestar em comportamentos impulsivos, como acelerar carros de alta velocidade, competir em situações desnecessárias e até recorrer a substâncias que aumentam a adrenalina e a testosterona ”, explica ele. Esses comportamentos são ativados no cérebro, um mecanismo semelhante ao uso de medicamentos, criando uma dependência da sensação de poder e excitação.